terça-feira, 30 de abril de 2013

Perguntas de um trabalhador que lê


Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída -
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China
                      ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária
                        Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.

(Bertolt Brecht)

Foto tirada na ocupação do Edifício Ipiranga em São Paulo por famílias sem-teto em 2010. (Imagem: Paulo Iannone)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um livro Capital


Nova tradução da principal obra de Karl Marx mostra que a mais importante análise feita sobre o capitalismo do século 19 ainda tem muito a dizer sobre o mundo de hoje


por João Paulo Cunha – Filósofo, psicólogo, pedagogo e jornalista. É editor do Caderno Pensar do Jornal Estado de Minas.



O capital, de Karl Marx (1818-1883), não é um livro fácil. Talvez seja até mesmo um dos mais complexos de seu tempo, pela soma de conhecimentos que traz, que exige um leitor informado sobre filosofia, história, economia e política, entre outras disciplinas. Além disso, ao inaugurar um campo do saber, faz uso de um método, a dialética, inspirada na filosofia de Hegel, mas com um foco definido na análise crítica do modo de produção de riqueza baseado no mercado. Em outras palavras: um novo objeto, uma nova ciência e um novo método. A isso se soma o volume da obra, que alcança milhares de páginas em quatro volumes, sendo que apenas no primeiro deles Marx pôs o ponto final.

O lançamento de uma nova edição de O capital – Crítica da economia política, com tradução feita diretamente do alemão por Rubens Enderle, é um passo fundamental no projeto da Editora Boitempo de trazer para o português as obras completas de Marx e Engels. Até agora já foram lançadas traduções de 16 títulos, entre eles dos clássicos A ideologia alemã e Grundrisse, mas com o primeiro volume da opus magnum do pensador, com quase 900 páginas, configura-se um nível de maturidade há muito exigido no âmbito dos estudos marxistas. Como se sabe, até mesmo por razões políticas, as traduções da obra de Marx foram feitas de forma assistemática, muitas vezes de segunda mão, e sem um projeto que abarcasse toda a produção teórica do filósofo.

O primeiro volume tem como subtítulo “O processo de produção do capital”. É obra que cobrou do autor muito tempo de estudo e até mesmo uma parcela de sua saúde. Marx havia se mudado para a Inglaterra em 1862, depois de várias transferências de cidade ocasionadas por sua militância política e na imprensa. No novo país, esperava não apenas aprofundar seus conhecimentos sobre o funcionamento do capitalismo mais avançado de seu tempo, como decifrar suas leis internas. A cena de Marx, afundado por horas seguida sem livros e relatórios no Museu Britânico, enquanto vivia a penúria doméstica, é clássica em todas as biografias. De lá saiu, em 1866, como livro um finalizado. A primeira edição chegaria aos leitores em 1867, em Hamburgo. Os demais volumes, a partir dos manuscritos de Marx, seriam editados por Engels, depois da morte do amigo da vida inteira.

A edição da Boitempo é amparada ainda por três textos introdutórios, que se complementam. O primeiro é assinado por Jacob Gorender e faz uma apresentação da obra a partir de seus elementos mais significativos, como a gênese histórica, a definição de O capital no âmbito das ciências sociais e uma análise da estrutura interna do livro. O texto seguinte, do filósofo francês Louis Althusser, retoma os argumentos do célebre Ler 'O capital', que marcou os estudos sobre Marx nos anos 1960, atentando para as principais dificuldades teóricas da leitura da obra. Por fim, em “Considerações sobre o método”, José Arthur Gianotti analisa a dimensão filosófica de O capital. Completam o volume prefácios das quatro primeira edições, cartas de Marx (uma delas inédita, dirigida a Vera Ivanovna Zasulitch, sobre a perspectiva do desenvolvimento na Rússia e a possibilidade da revolução no país), além de cronologia que interliga momentos da vida do autor com fatos políticos e culturais de seu tempo.

Tamanho esforço para levar o livro aos leitores contemporâneos evoca uma questão: O capital ainda teria o que dizer ao mundo de hoje? Não se trata de pergunta retórica. Tantas vezes sepulta, a obra de Marx parece retornar em momentos de crise. Sempre que se levantam os coveiros da história, das ideologias e das utopias, a primeira vítima quase sempre é Marx, que ganha a caricatura de um homem de outro tempo, a teorizar sobre um sistema econômico que foi capaz de vencer todas as crises e derrubar todos os muros. No entanto, basta que a roda da história volte a girar, seja em protestos políticos ou crises reiteradas do capitalismo, com suas consequências cada vez mais reais e próximas, para que o pensamento marxista evidencie sua significação. Não se trata de dizer que Marx estava certo ou errado, mas que seu pensamento ainda ajuda a entender os problemas atuais.

Por isso, além da análise econômica e da criação do materialismo histórico, a obra de Marx avulta em força pelo estilo e argumentação. O capital, com seu sólido e intrincado edifício argumentativo e analítico, talvez não seja amais palatável das obras marxistas, mas não deixa de trazer ao leitor determinado o prazer de encontrar a força da ironia e até mesmo as referências literárias clássicas, tão ao gosto do filósofo (que na juventude quis ser poeta). Além disso, algumas passagens parecem compostas a partir de personagens reais. Como destacou o americano Marshall Berman, em Aventuras no marxismo: “O que torna O capital tão fascinante é que, mais do que qualquer outra coisa que Marx tenha escrito, o livro traz à tona sua visão da vida moderna como totalidade. Essa visão está espalhada sobre uma imensa tela: mais de mil páginas só no primeiro volume; centenas de personagens – mineiros e meeiros, donos de loja e donos de moinho, poetas e panfletistas, médicos e religiosos, pensadores e políticos, anônimos de mundialmente famosos – falando com voz própria”.


Esforço de Leitura

Mas é preciso também deixar claro que se trata de obra que exige estudo. No Brasil, ficaram conhecidos,a partir dos anos 1960, diversos seminários de leituras que atravessaram a década, em que o foco era a leitura de O capital, atentando para suas dimensões teóricas e práticas. Esse esforço de leitura – já que a obra tem seus momentos de aridez – gerou uma forte tradição de interpretação da obra de Marx, que se espalhou em diversos departamentos universitários.Oque pode ser interpretado como vitalidade da academia, muitas vezes ganhou oposição ferrenha, sobre tudo em razão de leituras por vezes ortodoxas demais e, em outros momentos, exageradamente marcadas pelo jargão de escolas concentradas em torno de pensadores com vocação para guru. Não se pode deixar de salientar os que, por idiossincrasia ou ideologia, “não leram e não gostaram” de O capital, considerado por eles um livro sobre equívocos, cuja leitura devia ser evitada. Esses, que Francisco de Oliveira chama de “sicofantas do liberalismo”, talvez tenham perdido boas chances de vestir a carapuça com os sarcasmos que Marx esparge em O capital.

Vencidas as 900 páginas do primeiro volume, o leitor certamente entenderá melhor omundo em que vive. Mas o maior mérito do livro, independentemente da radiografia do modo de produção capitalista, talvez seja abrir os olhos para o pensamento marxista. Não no sentido de convencer as pessoas a se filiarem às hostes da esquerda, mas de alargar seu espírito para os demônios que habitam o cotidiano das relações alienadas e consumistas de nosso tempo. Muitos vão se surpreender com Marx. Um pensador que falava tanto da exploração do trabalho porque apostava que o melhor do homem era a poesia; que não perde tempo em apontar a sociedade perfeita (sua atenção era para a imperfeição do que via à sua volta); que se afundou nos estudos de economia exatamente para reduzir sua importância na vida da sociedade; que via no socialismo a continuidade da tradição de liberdade e conquista dos direitos civis. O próprio Marx, certa vez, afirmou que não era marxista.

O que o livro oferece ainda ao leitor é a abertura à posteridade criada por ele. Boa parte do pensamento social, cultural e político contemporâneo só é plenamente compreensível a partir da leitura de Marx e, entre suas obras, sobretudo de O capital. É desse monumento da inteligência humana que brotam a social-democracia europeia, as diversas experiências revolucionárias do século 20 (inclusive para se acercar de seus descaminhos), filosofias como a teoria crítica da Escola de Frankfurt, algumas correntes da psicanálise que analisam o papel repressor da cultura, os estudos culturais, os críticos da globalização e até aqueles que concordam com os defeitos do capitalismo, na vertente keynesiana, em tudo oposta ao marxismo. Quem se aferrar nas profecias fanadas vai perder o melhor de Marx, como de resto de todos os pensadores. Os que, no entanto, vivem com a sensação de que “tudo que é sólido se desmancha no ar” podem encontrar um parceiro na pesquisa profunda das causas desse infeliz e tacanho modo de estar no mundo. Enquanto outro mundo possível não vem.

Artigo publicado no Caderno Pensar do Jornal Estado de Minas, em 20 de abril de 2013.

domingo, 14 de abril de 2013

Sistema eleitoral venezuelano coleciona elogios de delegações internacionais

Centro presidido por Jimmy Carter e União Interamericana de Órgãos Eleitorais da América Latina atestaram qualidade e confiabilidade do processo eleitoral do país


Jonatas Campos, Caracas – Venezuela

Neste domingo (14), os 18,9 milhões de venezuelanos aptos a votar não precisarão levar uma cola com o número do candidato para o centro de votação. Ao contrário do Brasil, os eleitores escolherão o presidente votando nos partidos. Cada agremiação registrada no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) terá um espaço com a foto do candidato que apoia.


Assim, o Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), do presidente e candidato à reeleição Nicolás Maduro, terá sua foto impressa em uma tela tátil sensível ao toque, assim como a Mesa da Unidade Democrática (MUD), será o rosto do opositor Henrique Capriles Radonski.


A urna é composta por essa tela tátil, como se fosse um enorme aparelho celular touch screen, um pequeno monitor onde o candidato escolhido é confirmado e uma pequena impressora que imprime o voto para ser depositado na urna.


O processo criado para agilizar o voto é o formato de “ferradura” utilizado na sala de votação. A sala é organizada em cinco processos distintos e separados, o que permite que até quatro eleitores possam votar simultaneamente.


“Na primeira estação, o eleitor se identifica com sua cédula de identidade e digital. Depois, encontra-se com a máquina. Após escolher seu candidato na tela, confirma o nome no monitor e aperta em ‘votar’. A máquina imprimirá o comprovante, o eleitor confirma seu voto e o deposita na urna. Depois assina o caderno de votação e pinta seu dedo mindinho com a tinta indelével”, explica a vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Sandra Oblitas.


ORGULHO


A Venezuela orgulha-se do seu sistema eletrônico eleitoral e coleciona elogios de dezenas de delegações internacionais que visitam o país para conhecê-lo. Antes do pleito de 7 de outubro de 2012, quando o presidente Hugo Chávez foi reeleito para seu terceiro mandato, diplomatas, conselheiros e representantes de negócios de mais de 30 países foram convidados a conhecer as urnas eletrônicas táteis do país caribenho.


O presidente da missão de acompanhamento internacional da União Interamericana de Órgãos Eleitorais da América Latina (Uniore), Roberto Rosário, afirmou ontem (12) que os técnicos da entidade não constataram nenhum incidente, nem qualquer suspeita que afetem a confiabilidade e a qualidade do processo eleitoral.


Em seu relatório pré-eleitoral para o pleito de outubro de 2012, o Centro Carter de Estudos, presidido pelo ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, afirmou que “o sistema de votação da Venezuela é um dos mais conceituados sistemas automatizados do mundo”.


O Centro também afirma que o software e o hardware só poderiam ser alterados ou corrompidos se houvesse uma "união" entre governistas e oposicionistas para "abrir a máquina". Para a entidade, não há porque se preocupar com a possibilidade de alguém ter acesso à escolha individual de cada eleitor, já que o sistema "embaralha" a ordem dos votos e da identificação dos eleitores. "Não poderia ser modificado sem violar a assinatura digital das máquinas”.


Além disso, a Venezuela coleciona processos eleitorais nos últimos 14 anos, o que fez com que o CNE tenha aperfeiçoado suas máquinas e a logística do processo. Somando referendos constitucionais, referendo revogatório (do mandato de Chávez, onde ganhou a permanência do presidente), eleições municipais, estaduais e presidenciais, o país passou por 17 processos de votação. “Nenhuma grande decisão nesse país foi tomada sem a consulta ao nosso povo”, orgulha-se o ministro da Cultura Pedro Calzadilla em uma entrevista a TV estatal na manhã desse sábado (13).


Publicado originalmente no ComunicaSul

quinta-feira, 11 de abril de 2013

No mesmo caminho


O presidente Hugo Chávez cumpriu um papel decisivo na integração do Continente e nas transformações ocorridas, que vêm colocando em xeque as ambições imperiais estadunidenses na região. Das lutas democráticas e antineoliberais retornaram os ventos latino-americanos de soberania e independência. Na Venezuela, abriu-se um período de mudanças democráticas e populares, propiciando um enorme e inédito avanço socioeconômico em benefício da grande maioria e do resgate à dignidade nacional.

 
A Refundação Comunista acredita que é preciso seguir em frente no mesmo caminho e na mesma toada. Assim, saúda a candidatura presidencial do companheiro Maduro e se coloca à disposição das forças populares no que julgarem relevante. Ao mesmo tempo, repudia os representante das oligarquias – locais e estrangeiras – e se compromete com a luta por sua derrota, pelo bem dos povos e da humanidade.

 
A unidade alcançada e a vitória eleitoral da coalizão encabeçada por Maduro extrapolará as fronteiras da vizinha e amiga Venezuela, mantendo acessa a chama da integração soberana entre os povos e governos das Américas. Para derrotar os magnatas de dentro e de fora da terra de Bolívar, os comunistas brasileiros se juntam ao povo venezuelano para dizer: “Para seguir luchando y venciendo, Nicolás Maduro Presidente!”

 

Brasil, 29, 30 e 31 de março de 2013,

O Comitê Central da Refundação Comunista

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O dever de evitar uma guerra na Coreia

 
Faz alguns dias me referi aos grandes desafios que hoje a humanidade enfrenta. A vida inteligente surgiu no nosso planeta há cerca de 200 mil anos, salvo novas descobertas que demonstrem outra coisa.

Não confundamos a existência de vida inteligente com a existência da vida, que, desde suas formas elementares no nosso sistema solar, surgiu há milhões de anos.

Existe um número praticamente infinito de vida. No trabalho sofisticado dos mais eminentes cientistas do mundo se concebeu a ideia de reproduzir os sons que se seguiram ao Big Bang, a grande explosão que ocorreu há mais de 13.700 milhões de anos.

Seria esta introdução demasiado extensa não fosse para explicar a gravidade de um fato tão incrível e absurdo como a situação criada na Península da Coreia, em uma área geográfica onde se agrupam quase 5 dos 7 bilhões de pessoas que neste momento habitam o planeta.

Trata-se de um dos mais graves riscos de guerra nuclear depois da Crise de Outubro, em 1962, em torno de Cuba, há 50 anos.

No ano de 1950, se desatou ali uma guerra que custou milhões de vidas. Fazia apenas 5 anos que duas bombas atômicas haviam explodido sobre as cidades indefesas de Hiroshima e Nagasaki, as que em questão de minutos mataram e irradiaram sobre centenas de milhares de pessoas.

Na Península Coreana o General Douglas MacArthur quis empregar as armas atômicas contra a República Popular Democrática da Coreia. Nem sequer Harry Truman o permitiu.

Segundo se afirma, a República Popular da China perdeu um milhão de valentes soldados para impedir que um exército inimigo se instalasse na fronteira deste país com a sua Pátria. A URSS, à sua vez, forneceu armas, apoio aéreo e ajuda tecnológica e econômica.

Tive a honra de conhecer Kim Il Sung, uma figura histórica, notavelmente valente e revolucionária.

Se lá estourar uma guerra, os povos de ambas as partes da Península serão terrivelmente sacrificados, sem benefício para nenhum deles. A República Democrática da Coreia sempre foi amistosa com Cuba, como Cuba tem sido sempre e seguirá sendo com ela.

Agora que demonstrou seus avanços técnicos e científicos, lhe recordamos seus deveres com países que foram seus grandes amigos, e não seria justo esquecer que tal guerra afetaria de modo especial mais de 70% da população do planeta.

Se um conflito desta índole estourar, o governo de Barack Obama em seu segundo mandato ficaria sepultado por um dilúvio de imagens que o apresentariam como o mais sinistro personagem da história dos Estados Unidos. O dever de evitá-lo é também seu, e do povo dos Estados Unidos.

Fidel Castro Ruz, 4 de abril de 2013

terça-feira, 9 de abril de 2013

Pablo Ruiz Picasso, 40 años de la muerte de un genio comunista



Emiliano Gómez Peces




Pablo Ruiz Picasso, pintor y artista español nacido en Málaga en 1881. Hijo primogénito de José Ruiz Blasco, de origen vasco, profesor de dibujo de la Escuela de Bellas Artes, y de María Picasso López, de origen italiano por vía paterna. Su padre es trasladado a A Coruña cuando Pablo cuenta diez años. A pesar de su corta edad, Málaga quedará para siempre en su recuerdo: las palomas y los toros son algo nacido en Málaga y algo que nunca dejará de pintar.

En 1895, José Ruiz llega a Barcelona, esta vez para tomar posesión definitiva de su cargo. Barcelona agrada al adolescente Picasso, que ingresa en 1896 brillantemente en la Lonja. Al año siguiente lo hace en la Escuela de San Fernando en Madrid con una entrada casi triunfal. Una escarlatina le hace regresar a Barcelona. Expone en la taberna modernista Els Quatre Gats, para la que realiza un cartel, que conocerá gran fortuna.

Como todos los artistas de su tiempo, su gran ilusión es ir a París. En 1900 llega a la capital francesa y conoce directamente el mundo del que tanto había oído hablar en los círculos artísticos españoles. Tras unos primeros momentos de pintura “parisina”, Picasso vuelve a su personal estilo y comienzan a aparecer las tonalidades azules que definirán una época que va de 1901 a 1904, de la que es fiel exponente su famoso Viejo guitarrista.

Tras dos regresos a España, en 1904 se instala definitivamente en París y al año siguiente conoce a su primera mujer, Fernande Olivier. Una profunda transformación se realiza en el artista, los tonos fríos van dejando paso a los rosados. Se interesa por el trabajo de acróbatas y equilibristas, y así lo refleja en sus cuadros. En 1907 pinta Las señoritas de Avigñón, fruto maduro que marcará un hito en la Historia de la Pintura universal: es el nacimiento del cubismo. Picasso descompone, “rompe” las figuras en formas geométricas que luego se vuelven a juntar; es la búsqueda de la cuarta dimensión. Desde el Renacimiento no se había conseguido una innovación plástica tan importante.

Tras una época que se podría definir como precubista, y que cronológicamente se enmarcaría entre 1910 y 1912, vendría la plenamente cubista, que abarcaría desde 1913 a 1915. Pero Marcela Humbert, la nueva compañera que había encontrado tras separarse de Fernande, muere en 1916. El pincel de Picasso comienza a moverse con trazos perfectos.

Viaja a Roma para realizar los escenarios y vestuarios de los Ballets Rusos y allí conoce a la bella bailarina Olga Khoklova. Recorren juntos España y, en 1918, Picasso y Olga se casan. Comienza lo que se ha dado por llamar la etapa neoclásica, aunque no abandona totalmente el cubismo.

En 1932 conoce a Marie-Therèse, joven suiza rubia y tranquila, apasionada del deporte, que le proporcionará la estabilidad de ánimo que tanto necesitaba. Este año profesionalmente también tiene un gran significado: expone en la Galería Paul Petit, con clamoroso éxito. Recorre España y de este viaje son fruto los grabados y los temas taurinos. Intenta divorciarse de Olga y al año siguiente nace su hija Teresa, mientras continua con los grabados de la serie Minitauromaquia.

Con la Guerra Civil española toma postura abierta por la República y es nombrado director del Museo del Prado. La tragedia de España se hunde profundamente en sus sentimientos y en 1937 pinta el Guernica, de enormes proporciones (3,5 x 7,8 metros), en memoria de los muertos por el tristemente famoso bombardeo. La metáfora, el color, expresan lo que las palabras no llegan a reflejar: el horror, la angustia, la desesperación y la impotencia ante la irracionalidad. Prosigue con las composiciones donde el punto central es la crueldad. París ocupado por los nazis completa el dolor y la desesperación de Picasso, que, sumergido en su estudio, esculpe y pinta obras siniestras. Es su forma de luchar contra lo que considera injusto e inhumano, pero no la única: en 1944 se afilia al Partido Comunista.

Cuando al fin Francia es liberada, se traslada a la Costa Azul, su lugar preferido, donde la luz lo invade todo. Y como algo infalible y constante en su vida, una nueva compañera, Françoise Guillot, y una nueva forma de pintar; los temas se vuelven amables, incluso bucó1icos. Nace primero Claudio y luego Paloma, coincidiendo con su dibujo La paloma de la paz. Tras asistir a los Congresos de la Paz de Londres (1950) y Roma (1951), pinta en una capilla dos composiciones: La guerra y La paz, en las que deja patentes su sentimientos de humanidad y esperanza.

Françoise se marcha y una nueva mujer entra en su vida ya definitivamente: Jacqueline. Nunca Picasso había pintado tanto a la mujer que amaba. Y una nueva forma de pintar: en 1957 se dedica a hacer una serie de variaciones sobre un gran tema: Las meninas, de Velázquez; fórmula que había practicado anteriormente con un tema de Delacroix. Y a pesar de su avanzada edad, su actividad no cesa. Vuelve a pintar toros, personajes del Siglo de Oro, y sigue esculpiendo, modelando, pintando, hasta su muerte. Convertido ya en una leyenda en vida y en el epítome de la vanguardia, el artista y Jacqueline se retiraron al castillo de Vouvenargues, donde el creador continuó trabajando incansablemente hasta el día de su muerte.

Considerado uno de los mayores artistas del siglo XX, fue miembro del Partido Comunista Francés hasta su muerte, el 8 de abril de 1973 en Notre-Dame-de-Vie ( Mougins, Francia) a los 91 años.


Publicado originalmente no site "La Mancha Obrera"